Rubens Amador

Carne data canis

Rubens Amador
Jornalista

Ao colocar título neste artigo, me veio à lembrança três grandes professores de latim que tive no Colégio Pelotense, então ginásio, numa época em que este se equiparava ao Colégio Pedro II, no Rio, considerado o máximo em escola. Evoco com saudade o nome do Prof. Dr. Antonio Augusto Pinto (advogado), português _ um sábio, assim o considerávamos, pois sabia de tudo com profundidade. O Dr. Augusto Pinto, era egresso de Coimbra e um notável latinista! Depois veio outro professor de latim, também proveniente da famosa universidade portuguesa: o Prof. Dr. José Balreira (médico), homem de excelsa bondade e grande conhecedor do latim. E, finalmente, lembro-me do Prof. Felisberto Machado, brasileiro, igualmente notável conhecedor da língua morta. Certa vez descreveu-nos uma partida de futebol _ em aula (o professor Machadinho, como era conhecido, era áureo-cerúleo apaixonado) _ toda narrada por ele, em latim. O título da narrativa era: "Balipodo" (bola no pé). Era um católico fervoroso como nunca encontrei igual! Presto a esses três formadores de caracteres inesquecíveis o meu preito de gratidão por tudo que me ensinaram.

Mas "carne data canis", quer dizer, "carne dada aos cães", o que me fez lembrar daquela moça chamada Eliza Samúdio, trucidada por um bando de monstros, a quem a nossa Justiça contemplou com uma condenação que beneficiou aqueles homens sem coração e caráter que, a mando de um tipo que me nego a citar seu nome, a seviciaram, depois de sequestrarem-na, a espancaram covardemente, numa série inominável de torturas confessadas, que terminou com a morte da moça por estrangulamento. E depois, tal como foi feito com Tiradentes, esquartejaram-na, segundo eles "para que seu corpo jamais fosse encontrado", e jogaram os pedaços da moça a vários cães criminosos, certos rottweilers famintos. Onde o sentimento de empatia daqueles canalhas ante seu crime bárbaro contra uma frágil moça? O que custava ao mandante, e pai de um filho com a moça referida, pagar a pensão regular determinada por lei? Ou ela era sabedora de certos segredos? A pensão, sabe-se, para ele pouco representava financeiramente. Ah, não estarmos nos Estados Unidos, ou noutro país do Oriente onde a lei é severa para crimes dessa natureza, que eles todos estariam hoje no corredor da morte.

"Carne data canis!" Carne dada aos cães! Só essa prática empregada arrepia-nos quando pensamos no festim macabro que aqueles cães assassinos tiveram, para gáudio daqueles bandidos que, se tivessem feito o que fizeram em certos países, teriam morte igual! E mereciam. Ah, a propósito, ainda do latim, a palavra cadáver, para os que não sabem, provém de expressão latina (aproveitando-se a primeira sílaba de cada palavra), em: "carne data vermibus". Carne dada aos vermes, daí cadáver. Tenho certeza de que no coração de cada brasileiro, há o desejo de que nossa Justiça seja mais enérgica no trato com criminosos como os que mataram Eliza Samúdio. Onde estás, cadeira elétrica?

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